

Uma Jornada de Dor, Perdão e Esperança: O Testemunho de Superação de um Homem que Encontrou Força na Fé
Nasci na década de 80, numa pequena cidade do extremo norte do Espírito Santo, cercado pela simplicidade e o calor humano de uma comunidade pacata. Minha infância parecia, à primeira vista, tranquila: uma família unida, uma rua animada onde crianças brincavam até o anoitecer, e o aconchego da casa onde cresci com meus pais, minha avó materna e meus dois irmãos mais novos. Como primogênito, recebi atenção e privilégios, mas, por trás dessa aparente segurança, escondia-se uma história marcada por feridas profundas e silêncios dolorosos.
Desde cedo, vivi uma realidade complexa. Meus pais trabalhavam o dia inteiro e, como era o mais velho, precisei ser cuidado por terceiros. Foi nesse contexto que, ainda criança, sofri abusos por parte de pessoas próximas, experiências que misturavam medo, confusão e uma estranha sensação de prazer que eu não conseguia compreender. Essas vivências deixaram marcas que influenciaram minha identidade e minha relação comigo mesmo. Aos poucos, percebi que desejava ser menina, que me sentia mais confortável no universo feminino, vestindo roupas escondido e buscando um lugar onde pudesse ser quem eu realmente era.
Minha família, ao perceber meu jeito diferente, decidiu que eu precisava de terapia. As sessões, longe de trazer alívio imediato, me expuseram ainda mais ao julgamento e ao preconceito, especialmente na escola, onde colegas zombavam e espalhavam boatos. O afastamento dos meus pais, especialmente do meu pai, foi doloroso. Ele não aceitava minha forma de demonstrar afeto e usava palavras duras para me rotular. Meus irmãos também se distanciaram, temendo serem associados a mim. Em meio a tudo isso, encontrei conforto no amor incondicional do meu avô paterno, que foi um verdadeiro porto seguro.
Durante anos, carreguei o peso do abandono emocional, das críticas e do preconceito, mas também aprendi lições valiosas. Com o tempo, compreendi que aqueles que me feriram também carregavam suas próprias dores e feridas abertas. Essa percepção despertou em mim a empatia e a capacidade de perdoar, não para justificar o que aconteceu, mas para libertar meu coração e seguir em frente.
Minha fé foi o alicerce que sustentou minha caminhada. Mesmo quando a vida parecia me empurrar para um canto, a certeza do amor de Deus me manteve firme. Encontrei na Igreja Adventista do Sétimo Dia um lugar onde pude me reconectar com minha espiritualidade e fortalecer minha esperança. O versículo de Isaías 49:15, que fala do amor inesquecível de Deus por seus filhos, tornou-se um mantra que me acompanhou nos momentos mais difíceis.
Hoje, olho para trás e vejo uma trajetória de superação. Sei que sou muito mais que as dores do passado. Sou um vencedor porque escolhi a paciência, o perdão e a fé. Minha história não é apenas sobre sofrimento, mas sobre a capacidade humana de transformar a dor em força, o abandono em esperança e o preconceito em amor.
Desejo que meu testemunho inspire outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes a não desistirem. Que saibam que, mesmo nas noites mais escuras, há uma luz que nunca se apaga. E que, com empatia e compreensão, podemos construir um mundo mais acolhedor, onde todos tenham a liberdade de ser quem realmente são.